2024 - Marrocos
texto por: Nuno Carvalho
Entre 21 e 28 Março 2024 fizemos uma nova incursão ao continente Africano mais concretamente ao Reino de Marrocos.
Começamos esta aventura por marcas as datas no calendário de forma a organizarmos as nossas agendas bastante preenchidas e assim libertar algum tempo para o tour Marrocos 24.
Como ainda somos um pouco verdes nestas andanças, marcamos as datas sem ver a metereologia (erro nº 1) assumindo que em Marrocos está sempre bom tempo (erro nº 2).
Quando se pensamos em Marrocos pensamos em camelos, deserto, pistas de terra batida, areia ... o que não é inteiramente verdade afinal de contas Marrocos tem montanhas e vales e ate uma "Suiça" onde as casa tem os telhados bem inclinados.
Decidimos que desta vez iríamos partir à aventura desbravando o desconhecido à medida que íamos avançando sem fazer planos (também não tivemos agenda para grandes preparativos) confiando apenas nos nossos GPS e bom "velho" mapa em papel (erro nº 3) e assim dia 21 de manha fizemo-nos à estrada em direção a Algeciras para apanhar ainda no mesmo dia o Ferry que nos levaria a Ceuta.
De salientar que o Ferry e o Hotel em Ceuta tínhamos já reservado previamente ... somos malucos mas não tanto.
Travessia Algeciras - Ceuta
Dia 21 amanheceu triste com muitas nuvens vento e temperaturas a rondar os 16 º, ao sair de casa o Ricardo aponta para a minha querida Tenere 700 acabadinha de vir da oficina onde foram instalados um par de faróis auxiliares e diz “falta-te aqui um parafuso”. Faltava efetivamente um parafuso na carnagem da lateral esquerda o qual deve ter ficado esquecido na oficina .. obrigado Fabio .. enfim não era grave e não íamos deixar que o facto do dia estar horrível e a falta de um parafuso deitar-nos abaixo a vontade de partir. Corri a buscar um parafuso que servisse e lá seguimos viagem.
Em Sevilha o meu GPS pregou-me uma partida e resolveu seguir um caminho muito peculiar, que nos levou a conhecer uma parte de Sevilha onde nunca tinhamos passado no entanto e como tínhamos um horário a cumprir o Ricardo tomou a liderança e lá nos fez voltar ao caminho correto.
Vento e mais vento, rajadas violentas que quase nos mandavam para fora de estrada foi o que encontramos entre Jerez de La Forntera e Algeciras.
Em Algeciras foi a vez do GPS do Ricardo se “portar mal” e fomos dar uma voltita que não estava prevista enfim nada estava previsto uma vez que não tivemos tempo de fazer o TPC (trabalho de casa) e desenhar uns tracks aceitáveis para “tirar” alguma liberdade aos GPS (erro nº 4).
No porto estava uma ventania e um frio terrível que nos fez questionar várias vezes o que raio estamos nos aqui afazer com este temporal.
Ceuta - Espanha
O Mediterrânico estava bravo, estacionamos as nossas montadas no porão do Ferry, verificamos as cintas que foram colocadas e subimos para o convés. Ainda não tínhamos saído do porto e a tripulação começou a distribuir saquinhos para o enjou .. "isto vai abanar" pensei eu, nunca pensei foi que abanasse tanto. Ainda a travessia não ia a metade e já havia pessoas a vomitar, na zona do bar onde nós estávamos sentados só se ouvia garrafas, latas e não sei mais o que a cair, pouco tempo depois interditaram as casas de banho e eu pensava “se o barco naufragar tenho de tirar o equipamento todo (botas e calças) para conseguir nadar”.
Do outro lado do lago a ondulação era tanta que ate dentro do porto o Ferry não estabilizava, de tal forma que não conseguiam fazer descer a rampa para sairmos daquele inferno. Passados alguns minutos ainda no poram mas já montados nas motas finalmente conseguiram domar a "besta" e fazer descer a rampa. Desta vez fui eu que tomei a liderança e não sem o engano da praxe (o GPS mandou-nos para uma rua de transito proibido) conseguimos chegar ao hotel.
Depois de um banho reconfortante, cheios de coragem saímos em busca de um restaurante de tapas que nos tinham indicado na receção do Hotel. El Mentidero era o nosso destino para e jantar.
De realçar que fomos muito bem atendidos a comida estava optima e as “canhas” também pelo que recomendo e numa próxima visita voltaremos com certeza.
O amanhecer de dia 22 não podia ser pior para a moral da equipa o dia estava cinzento, apesar de não estar a chover estava tudo molhado, descemos para o pequeno almoço (aceitável) e consultamos a meteorologia (sim .. já aprendemos qualquer coisa).
As previsões eram más sim não há outra palavra eram mesmo desmotivantes, vento e chuva ao longo do caminho e durante toda a semana. Desanimados pensamos em voltar para Espanha, correção para o continente Europeu porque a esta altura ainda não tínhamos saído de Espanha (para quem não sabe Ceuta ainda é Espanha).
Depois do pequeno almoço chegamos mesmo a tentar mudar o bilhete que tínhamos para dia 28 mas foi impossível pelo que encolhemos os ombros um para o outro e dissemos “que se .... vamos para Marrocos” e assim foi pegamos nas montadas e rumamos para a fronteira.
Fiquei neste momento a perceber que o meu GPS não tinha o mapa de Marrocos (erro nº 5) e que teríamos de confiar cegamente no GPS do Ricardo.
Na fronteira mais um pequeno impasse já no ultimo controlo de passaporte com tudo carimbado e tratado o oficial pegou nos nosso passaportes e começou a andar em direção ao guiché. Mandaram-nos estacionar as motos e esperar, ainda perguntei no meu mau Frances o que se passava mas o Frances do oficial que tinha ficado para trás era tão mau ou pior que o meu e ficamos a saber o mesmo.
Passado uns minutos voltamos a ter os passaportes na mão afinal o que se tinha passado era que a data do carimbo de entrada era de 21 e não de 22 ou seja o oficial que nos pôs o carimbo ainda estava preso no dia anterior e não tinha mudado a data do carimbo.
Bom lá fomos em busca de uma casa de cambio e uma de telemóveis para trocar dinheiro e comprar um SIM card respetivamente.
Encontrarmos uma casa de cambio foi fácil, havia uma a cerca de 2 ou 3 km da fronteira e estava aberta o que em período de Ramadão viemos a perceber que era uma coisa rara. Mesmo ao lado da casa de cambio havia uma loja de telemóveis no entanto não tivemos a mesma sorte e esta estava efetivamente fechada e só iria abrir mais tarde por influencias do Ramadão.
Continuamos viagem sempre junto à costa do Mediterrâneo e sempre debaixo de uma neblina / maresia / poeiras do Saara que afetava a visão não só da paisagem mas também da estrada e tornava a condução mais perigosa e exigente.
Como apanhamos o período do Ramadão, bem em relação a este “problema” também só demos por ele uns dias antes de sairmos pois quando marcamos as datas não fomos verificar o calendário (erro nº 6) levamos connosco comida e “planeamos” uns piqueniques à hora do almoço.
Em tempo de Ramadão recorremos ao picnic
Depois de um dia com o tempo menos bom chegamos ao Hotel com a satisfação de termos feito uma estrada espetacular, com pena de não termos visto a vista que a estrada proporcionava em condições e com muita vontade de voltar num dia de sol.
O Hotel estava deserto só lá estávamos nós, à hora de jantar aconselhamo-nos mais uma vez com a receção do Hotel e pedimos direções.
Foi-nos recomendado um restaurante do outro lado da praça Mohamed VI ao qual nos dirigimos de imediato pois a fome já apertava pois o almoço tinha sido fraco.
Não achamos que o restaurante tivesse grande pinta e resolvemos dar uma volta pelas redondezas mas estava tudo fechado e quando tentamos pedir direções aos transeuntes estes não foram muito amigáveis pelo que resignados regressamos ao ponto de partida e pedimos uma mesa.
Devo dizer que jantei bem nada local nem muito elaborado mas bom.
Algures em Marrocos
Dia 23, acordamos com sol, finalmente sol. Depois de muito debate no dia anterior sobre a rota a seguir e onde dormir decidimos rumar a Sul para uma zona já nossa conhecida do tour Marrocos 2023. Assim sendo o nosso destino seria Azrou situado perto de Ifrane. No dia anterior decidimos dar uso ao nosso mapa em papel (muito útil, não volto a sair de casa sem ele) e identificamos uma rota que iria atravessar um parque Nacional Tazekka uma escolha que se revelaria acertada.
Arrancamos seguindo o GPS do Ricardo pois como já referi o meu estava decididamente arrumado e enterrado junto da roupa suja.
Desta vez a meteorologia ajudou o dia esteve razoável tendo as temperaturas chegado aos 30° C obrigando a uma paragem técnica para remover "layers" de roupa e forros dos casacos.
Fomos brindados durante todo o caminho com paisagens fantásticas, deslumbrantes e arrebatadoras que nos fizeram esquecer as tormentas por que tínhamos passado nos ultimos dois dias. Sao dias como este que nos faz gostar de andar de mota e apesar de tudo querer sair de casa e fazer km rumo ao desconhecido.
Apos varias paragens para ajustar o percurso no "teimoso" GPS do Ricardo e consultarmos alguns transeuntes chegamos a ao nosso alojamento.
O Ricardo tinha escolhido um DAR fantástico onde fomos muito bem recebidos e onde fomos presenteados com um chá de menta excelente.
Azoud - Marrocos
Depois de um bom banho planeamos a rota para o dia seguinte, iríamos continuar para baixo direitos as cascatas de Ouzud, marcamos alojamento e fomos jantar.
Para jantar optamos por ficar no alojamento os donos serviram-nos uma “tajine” de vaca que estava divinal.
Já deitado não me estava a sentir bem de saúde, não sei se seria do cansaço acumulado da vida profissional bastante atribulada juntamente com o cansaço da viagem, o que é certo é que comecei a pensar que seria prudente não avançar mais para sul, não queria arriscar a ficar doente no reino de Marrocos pelo que decidi que de manha daria a noticia ao Ricardo.
Dia 24, com muita pena minha disse ao Ricardo que não ia continuar a viagem e que iria regressar a casa. A meteorologia estava terrível, chovia e o vento soprava forte, fazendo com que a decisão de voltar não fosse tão dolorosa. Quem anda de mota sabe que viajar com más condições climatéricas em estradas estreitas e desconhecidas não só é desconfortável como muito mais perigoso, no entanto claro, se não fosse o facto de me não me estar a sentir bem teríamos com certeza continuado rumo a Sul desafiando o “São Pedro” ao bom estilo “live to ride, ride to live”.
Assim sendo, apesar de ver no Ricardo algum descontentamento mas também muita compreensão, depois do pequeno almoço servido pelos donos do alojamento seguimos viagem rumo ao Norte e em direção a Ceuta.
O caminho foi longo e cansativo no entanto uma vez que optamos por estradas principais e autoestradas os quase 500 km foram percorridos sem sobressaltos de maior a assinalar.
O GPS do Ricardo desta vez portou-se à altura, só se enganou uma ou duas vezes sendo que uma delas levou-nos para dentro do porto de Tanger MED quando queríamos mesmo era ir para Ceuta no entanto nada que um pouco de paciência e a consulta das autoridades locais não se resolvesse sem problemas de maior.
Já em Ceuta rumamos ao porto com o objetivo de alterar o nosso bilhete de regresso. No guiché da FRS (companhia de ferries) disseram-nos que todos os barcos estavam cancelados devido ao mau tempo e que provavelmente sairia um barco no dia seguinte às 09:00 da manhã. A senhora do guiché foi super acessível e competente tendo prontamente alterado a nossa reserva para o dia seguinte pelas 09:00. Agora era só esperar que as condições meteorológicas melhorassem e rezar para que o ferry do dia seguinte não fosse cancelado.
Com o bilhete na mão rumamos ao nosso já conhecido e acolhedor Hotel, estacionamos as montadas no parque privativo e fomos até ao quarto para um quentinho e reconfortante banho.
Com o banhinho tomado ensaiamos a saída do Hotel em direção ao também já conhecido restaurante de tapas no entanto e uma vez que estava a chover tivemos o bom senso de verificar primeiro se estava aberto tendo de imediato constatado que o mesmo estava fechado assim como todos os outros nas redondezas. Tristes e abalados, sem grandes alternativas resolvemos transformar a casa de banho do hotel numa cozinha improvisada e o quarto numa sala de jantar, recorremos aos mantimentos que tínhamos nas motas e jantamos no quarto.
Durante a noite o vento amainou e a chuva deu tréguas.
Travessia de regresso a casa
Video Description
Já na Europa a olhar para o que deixamos para trás
Dia 25 saímos do Hotel cerca de 45 min antes da hora do ferry tendo como destino o porto de Ceuta com o objetivo de embarcar no ferry que nos levaria ate Algeciras. O tempo estava ameno, sem vento e sem chuva pelo que não deveria haver nenhum problema com o Ferry.
Embarcamos sem qualquer problema, deixamos as motos no porão para serem devidamente amarradas pelos funcionários do navio e subimos ao convés.
Na zona do bar onde nos sentamos mais uma vez havia vidros por toda a parte originários de uma vitrine que outrora se encontrava em cima da bancada e agora jazia no chão em pedaços. Não era bom sinal pois queria dizer que o mar estava revolto e que iríamos ter potencialmente mais uma passagem atribulada.
À hora marcada o ferry partiu saindo tranquilamente do porto de Ceuta em direção ao continente Europeu, ao contrario do que pensei a viagem foi suave sem grandes abanões.
Em Algeciras decidimos rumar a Cadiz para almoçar no entanto o GPS do Ricardo tinha outros planos e não nos avisou tendo traçado rota em direção a Jerez de La Frontera e foi preciso alguma perseverança para o convencer do contrario.
Depois de Cadiz e de um almoço TOP sempre debaixo de chuva rumamos a Portugal e demos por concluída a incursão pelo Reino de Marrocos 2024.
1 - antes de marcar as datas da viagem consultar sempre a metereologia do local para onde estão a pensar viajar. Sabemos que muitas vezes as previsões não são certeiras mas são aproximadas e dá para ter uma ideia do que vamos apanhar pelo caminho.
2 - Devemos sempre preparar a viagem, se possível elaborar tracks e inseri-los no GPS. Se tivesse feito isto teria percebido que não tinha ativo o mapa de Marrocos no meu GPS.
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